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Sofia Wainer

 

Lêda Watson, gravadora que dinamizou a arte do DF.

 

Lêda Watson, formada em Artes Plásticas na Escola Nacional de Belas Artes pela Universidade de Brasília. Frequentou, em Paris, durante quatro anos, o atelier de Friedlaender, tendo vindo para Brasília em 1975. Imediatamente, dinamizou o panorama artístico da capital abrindo seu atelier, que se tornou ponto de encontro de gravadores do Distrito Federal. Lêda é uma das responsáveis pela educação do público brasiliense no que diz respeito à apreciação de gravura/arte. Sua batalha é em incentivo às importantes mostras de gravadores que vem se realizando em Brasília.

 

S.W. – Lêda, apesar de grandes nomes das artes terem-se dedicado à gravura, ela, somente há pouco tempo, está se projetando. Qual a sua opinião a respeito?

 

L.W. – Eu penso que a gravura, depois de um longo caminho percorrido, inicialmente, sendo uma atividade de produção e também de ilustração, era uma atividade paralela da parte dos grandes artistas, decorrente do trabalho de um grande pintor; não era ainda um arte maior, não no valor intenso da arte em si, mas no que representava como meio de comunicação e de participação no contexto geral. No século passado, a gravura já começou, lentamente, a adquirir o seu merecido espaço. Os pintores, os artistas, iniciam-se direto na gravura, já mergulham direto como sua expressão de arte sem ter, obrigatoriamente, que percorrer um caminho de pintores, de desenhistas, de grandes artistas e de grandes pintores para, posteriormente, se tornarem gravadores. Atualmente, os gravadores já fazem sua formação de gravura em metal como a primeira etapa e ali permanecem, eventualmente, se expressando através de outras manifestações de pintura ou de desenho, mas permanecendo a gravura como um modo central de sua maneira de se exprimir.

 

S.W. – Quer dizer que qualquer pessoa que se dedica à gravura pode se iniciar no trabalho e ser um gravador?

 

L.W. – Evidente, é, inicialmente, gravador e, posteriormente, outras coisas se quiser. Antigamente, a gravura, o ser gravador, era decorrência de uma formação anterior a um ser pintor. Já existem, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, artistas gravadores, artistas que iniciaram seu processo criativo, sua vida profissional de artista na gravura e, por isso, como não é um processo muito antigo, este caminho é um caminho lento, que a gravura, como expressão de arte, tem que percorrer, para que haja uma penetração, uma compreensão, um entendimento, uma divulgação natural do que é realmente a gravura em metal. Estamos conseguindo isto e, em Brasília, já existe uma maior compreensão do que é a gravura em metal. Eu tenho, e também vários outros artistas, procurado contribuir para isso mantendo um curso bem dinamizado; dezenas e dezenas de alunos que passam por aqui, fazendo exposições didáticas todo ano, mostrando não só os trabalhos, como a maneira que se passa através de todo o processo artesanal, para se chegar àquele resultado; para a gravura, que é uma coisa muito complexa, muito difícil, e para que as pessoas não só conheçam esta expressão de arte, mas entendam realmente o que é a gravura em metal. Coincidentemente, nós temos, aqui no Distrito Federal, exposições no momento muito importantes: gravadores espanhóis e ingleses contemporâneos, assim como um paulista, que, brevemente, estará expondo aqui no Distrito Federal.

 

S.W. – Bom, o que você acha da gravura aqui em Brasília? Eu sei que você tem um núcleo, formou muita gente aqui e agora está com este clube de arte; mas o grupo que você formou aqui em Brasília, você poderia dizer alguma coisa a esse respeito?

 

L.W. – Claro! Formou-se o processo desde a universidade, quando fui convidada, chegando da Europa, para dar um curso de gravura em metal. Vinte e tantos alunos se apresentaram. Após o curso de dois meses, muitos deles quiseram continuar a trabalhar e, como todos os cursos de extensão têm duração limitada e a matéria é muito complexa, para os que queriam continuar a trabalhar e não tinham onde, ampliei meu atelier e pude, através desses anos todos, desde 1975, manter ativo o contato com a gravura, com alunos em pequenos grupos que vinham, trabalhavam e aprendiam gravura, sabiam o que era gravura e, eventualmente, se tornavam profissionais da gravura, vários deles, como Sandra Drummond, Regina Motta, Amaro Freire, Flávia Galisa, Rose Fraymund e Siomar de Oliveira Martins. Passaram no meu atelier e, enfim, conviveram comigo e aprenderam a gravura. Estão totalmente envolvidos pela gravura e se tornaram profissionais há vários anos, divulgando, expondo no Brasil e no exterior já como profissionais, ganhando prêmios por este Brasil afora.

 

S.W. – Diga-me também sobre este selo que foi lançado agora, há pouco tempo, no dia de Ação de Graças.

 

L.W. – Isso foi um convite que muito me gratificou, das Empresas de Correios e Telégrafos, para um projeto de uma gravura que representaria o Dia de Ação de Graças. Trabalhei o ano passado nisso e resultou uma gravura que foi bem aceita, houve bastante divulgação. O selo ficou bem razoável. Foi lançado no dia 16 de novembro e tem tido uma boa penetração. Foi um trabalho de uma artista de Brasília e não é comum que gravura se torne selo; em geral, são desenhos, pinturas, o que muito me honrou por poder contribuir para divulgar a gravura através do selo.

 

S.W. – Você está montando um atelier novo, todo instalado. Quais são os projetos que está pensando em divulgar e o que pensa fazer no novo atelier?

 

L.W. – Eu acabo de chegar de Washington vindo de uma exposição individual que, aliás, transcorreu magnificamente bem, com bastante entusiasmo, professores, universitários e colecionadores. E, imediatamente chegando, tive que me envolver com essa mudança de atelier, que realmente é lento o processo, o trabalho é muito, é complicada a instalação do atelier. E vou além disso, além da gravura em metal; inúmeros cursos diferentes: de criatividade, de desenho, de pintura em tecido, de criatividade para crianças e adolescentes, uma diversificação muito grande de atividades. Tenho dito que tenho que dedicar tempo integral ao planejamento desse meu novo local de trabalho, que será aqui na 715 sul, bloco G, casa 5, e aqui sempre estaremos esperando os que amam a arte, não só pelos cursos, mas pelo convívio com a arte, palestras, conferências e exposições. Sempre o visitante terá oportunidade de muitas coisas e de conhecer de perto com se faz. Temos a ideia de iniciar com um rótulo Clube das Artes, uma espécie de associação de um grupo fechado de pessoas que se candidataram não só a participar dos cursos, palestras e exposições, como também de um sorteio mensal de 18 pinturas e 10 gravuras de um gravador e de um pintor de expressão nacional, excelentes. Eu pretendo conseguir 10 obras de cada um a cada mês (total de 20), para as quais os associados se candidatariam a um consórcio. Isso funcionará como uma atividade do Clube das Artes. Adquirir obras de arte com pagamentos parcelados suaves, sem problemas e sem juros, seria uma espécie de veículo do colecionador brasiliense que se interessa por arte e por artistas do Brasil inteiro, de caráter de galeria, e apenas como uma espécie de intermediários e de penetração de muitos artistas que não são conhecidos. Vamos ver se, em março, vamos incrementar isso.

 

S.W. – Agora, esse clube terá um limite de pessoas. Você acha que 30, 10 pessoas... quantas pessoas podem entrar?

 

L.W. – Inicialmente, eu pensei em 30 pessoas. Se a adesão à proposta for grande, podemos pensar em um revezamento dos associados que se candidatarem às obras, que, ao serem sorteados, abririam um lugar para o próximo que estaria se candidatando para os próximos sorteios.

 

(Entrevista publicada no Correio Braziliense, na edição de 2 de março de 1983)

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