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Norberto Nicola

 

Lêda, minha cara amiga. Sensibilizado pela lembrança e deferência, recebi tua carta, teu abraço e o pedido para dizer algumas palavras sobre teu trabalho. Avaliar tuas gravuras realizadas em perfeita técnica e o feliz encontro de que achou o meio de expressão que lhe é afim parece-me desnecessário. A obra é a evidência. Considerar o caminho para a realização artística, que foi longo, dedicado e árduo, iniciado mesmo antes do teu encontro com o buril, também. Quando nasce o artista, o ser que sente e se expressa por meio da linguagem articulada pela sensibilidade, aquele caminho penoso e gratificante é comum a todos eles. Sabemos como é: um meio e não o fim.

 

Pretender localizá-la nas correntes contemporâneas ou analisar sua contribuição e influência para nosso meio cultural é tarefa além de minhas possibilidades que, com propriedade, o fará a crítica. Apresentar-me, porém, ao público e aos amigos de minha cidade, sim, faço-o com prazer: eis aqui, mostrando-se a vocês, uma colega e amiga. Como acredito na amizade e na arte, como homenagem a ambas, peço que a conheçam.

 

Para finalizar, notei, em teus últimos trabalhos, a conformação de considerações que fiz recentemente. A obra, materialização do pensamento do artista, deve integrar a comunhão deste e de seu ambiente. Aventura de ser jovem, espontâneo e sempre novo. Nas paisagens interiores que refletem tuas gravuras, vi agora a ti em diálogo intenso com nosso cerrado, e me pareceu muito bom.

 

Minha cara, se esta carta puder ser útil para tua finalidade, disponha dela até mesmo em parte. Caso contrário, tenha-a como considerações trocadas por duas pessoas que exercem em comum o trabalho de se expressar esteticamente na linguagem das formas e das cores.

 

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Norberto Nicola (São Paulo/SP ,1931 - 2007).

Tapeceiro, pintor, desenhista, escultor e gravador.

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