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Lívio Abramo

 

Como todo artista criador, Lêda Watson condensa e sintetiza as imagens do mundo exterior, assim como aquelas do mundo interior numa imaginária e em signos simbólicos que realiza plasticamente na gravura, de maneira muito subjetiva, mas sempre rica em soluções formais. A trama de suas imagens é transformada muito frequentemente em um arabesco que, em geral, se afasta da figura humana sem se poder dizer que sua arte seja abstrata, do modo em que sentimos pulsar nela, difusa, mas perceptível, a vida do homem, da terra, das árvores, do infinito, que tudo abrange... Muitas destas gravuras nos recordam – e cremos que são o resultado de uma interpretação subjetiva dessa natureza de parte da artista – as terras do Brasil Central, mais propriamente, o "cerrado cuiabano", cuja hirta e hostil flora tanto se afina com as linhas dramáticas e até dolorosas destas estampas.

 

A arte da água-forte e da água-tinta, frequentemente mescladas pela autora destas gravuras, parecem o meio ideal para lograr os resultados gráfico-plásticos e expressivos a que, parece, se propõe Lêda Watson. A imprecisão e até a impressão de inacabado que dão, às vezes, alguns trabalhos, correspondem melhor à vontade de expressão exigida: é que esta solução faz com que o motivo meramente enunciado no papel exija a participação da fantasia do expectador, deixando ampla margem para a especulação e a imaginação complementarem o que é indefinido no quadro. Há, enfim, uma profunda associação subjetiva da artista com as paisagens, reais ou imaginárias, que ela interpreta mediante – segundo um crítico – "associações clandestinas" que enriquecem grandemente o valor e as qualidades plásticas da obra. Utilizando com patente perícia as técnicas da gravura em metal – água-tinta e água-forte –, a autora vai criando uma iconografia própria, na qual as "memórias" e os "momentos", as imagens humanas e a natureza, assim como os efeitos das texturas gráficas se dissolvem num mundo fantasioso e rico de soluções.

 

Baseando-se numa suposta ou imaginária realidade e "desrealizando-a" ao mesmo tempo, Lêda Watson nos dá uma das novas faces da moderna gravura brasileira, na qual ela ocupa o seu merecido lugar.

 

Depoimento de Lívio Abramo, por ocasião de exposição no Paraguai, em 1981.

 

Livio Abramo (1903 - 1992) foi gravador, ilustrador, desenhista.

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