top of page
Alberto Beuttenmüller

 

A desconstrução na obra de Lêda Watson

 

A linguagem contemporânea elegeu o processo criativo, ou idéia, como fator principal, a partir da antiarte de Marcel Duchamp (1889-1968). Hoje, o processo criativo por que passa uma obra de arte tem mais valor que o próprio objeto artístico. Este é o cerne da análise da gravura de Lêda Watson e de sua linguagem contemporânea, na sua rigorosa gravura em metal. Este fato é, em si, auspicioso; a gravura em geral vem repetindo cacoetes seculares, principalmente, nas técnicas de xilogravura e de gravura em metal, as únicas que possuem incizione, palavra italiana que deu nome à gravura. As demais técnicas, embora chamadas de gravura, são técnicas planas e, portanto, não produzem incisões, daí a diferença entre xilogravura e litografia; a primeira é incisão em madeira; a segunda é desenho riscado em pedra plana.

 

O fato mais marcante na atual gravura em metal de Lêda Watson é que seu processo é pós-moderno e segue características semelhantes ao conceito de desconstrução da linguagem de Jacques Derrida, filósofo francês, criador da escola da desconstrução, embora referente à linguagem verbal. O que é desconstrução? À primeira vista, dá impressão de destruição da linguagem anterior para construir nova linguagem em outro espaço e tempo. O processo criativo atual de Lêda Watson realiza exatamente isso. Lêda retirou, de seu baú, antigas provas de estado, cujas imagens estavam em uma ordem de composição, e recortou-as em nova série de gravuras. Desconstruiu o percurso anterior, ao mesmo tempo em que criou nova forma, e a nova obra obtida com a nova imagem vai projetar sentidos diferentes daquela que projetava anteriormente. A gravura de Lêda Watson respira, agora, nova forma e novo conteúdo. Ao descobrir a linguagem anterior da sua gravura em metal, trocando-a por signos da nova imagem, Lêda Watson atingiu a pós-modernidade. Seus ícones de flora e fauna passaram a viver em uma nova floresta de signos e de símbolos, enquanto uma nova poética emerge, com novos significados, a partir de antigos significantes. Ao desconstruir seu passado, Lêda Watson descobriu seu futuro.

 

​

Alberto Beuttenmüller é jornalista, escritor, crítico de Arte, curador de bienais de São Paulo em 1977, como a XIV Bienal Internacional; e da I Bienal Latinoamericana, em 1978. Membro do júri da Bienal de Salto, Uruguai, 1998. Membro da Aica-Unesco – Association Internationale des Critiques d’Art, Paris, France. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte – ABCA – e ex-editor do Jornal da ABCA. Dirtetor de vários museus de São Paulo

bottom of page